sexta-feira, 22 de abril de 2011

Celebração da Paixão do Senhor

A solenidade que marca o dia de hoje em todo à Igreja e a celebração na qual recordarmos a morte de Cristo. Aqui em Ipaporanga pela manhã aconteceu a Via-Sacra, saindo da COHAB II terminando na Igreja Matriz. Pela tarde, às 15h, aconteceu também na Igreja Matriz a Celebração da Paixão de Cristo.




















Sexta -feira da Paixão do Senhor

“Eu vos digo com toda a verdade, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, ficará só; mas, se morrer, produzirá muito fruto” (Jo 12,24).


Meus irmãos e minhas irmãs,

Hoje é o único dia do ano litúrgico em que não se celebra a Santa Missa. A Igreja está de luta, na celebração da Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo. A Igreja está em recolhida oração. Hoje é dia de penitência. Dia de jejum. Dia de abstinência de carne. Dia em que cada um de nós deve voltar seus pensamentos para o Calvário, há dois mil anos, e participar dos sofrimentos atrozes vividos pelo Redentor da Humanidade. 
Durante o Tríduo Sacro, a Liturgia revive os passos do Senhor, de forma mais acentuada do que no Tempo da Quaresma, quando era o período de convite à mudança de vida, momento de conversão, de desenvolver propósitos. Agora, vive-se o grande drama, como numa grande encenação do sofrimento de Cristo.
E hoje vivemos o instante do sacrifício. Jesus, o sacerdote que se nos deu ontem, na tarde de Quinta-feira Santa, na celebração da Instituição da Eucaristia, assegurando-nos, ainda, a perenidade do sacerdócio ministerial, hoje se imola. O que ontem fora uma prefiguração, agora já se efetivou: o Cristo se imolando continuamente em nossos altares. Eis, pois, o motivo pelo qual não se celebra na Sexta-feira Santa o Sacrifício da Missa, pois se encontra suspenso no madeiro da ignomínia erguido por nossas constantes infidelidades à graça divina o Deus Redentor. E nesse hiato de sofrimento e de expectativa pelo que há de vir nos séculos futuros meditamos, até o dia em que celebraremos com a Augusta Trindade uma ação de graças eterna, na bem-aventurança. 
No dia em que o sacrifício de Cristo está mais central do que nunca, a tradição da Sagrada Liturgia não celebra o sacrificío da Missa, mas uma evocação de sua morte, que não deixa de estar em íntima união com a missa de Quinta-Feira Santa, já que o pão consagrado ontem é consumido hoje.
A Liturgia nos faz sentir, de maneira especial, o significado do sofrimento de Cristo e as duas leituras que antecedem à leitura da Paixão são fundamentais para penetramos no Mistério que ora celebramos. A Paixão segundo São João constitui o modo privilegiado de acesso ao Mistério Pascal que neste dia revivemos, sobretudo como morte do Senhor.
A primeira leitura (Is 52,13-53,12) é o quarto canto do Servo de Javé. No texto de Isaías, a Igreja nascente encontrou, através das nuvens da história antiga, o fio que a existência de Jesus retornou e levou ao fim: a doação da vida do justo, pela salvação dos homens e mulheres, pela salvação dos irmãos, mesmo dos que o rejeitaram e mesmo daqueles que o traíram. Já a segunda leitura, retirada da Carta aos Hebreus (Hb 4,14-16;5,7-9), coloca em evidência que Jesus participou em tudo de nossa condição humana, exceto do pecado. Assim devemos nos colocar perante o mistério de hoje: Jesus fazendo-se homem em tudo – exceto no pecado - morre pela salvação da humanidade, para o perdão de nossos pecados, inaugurando o novo tempo: o tempo da salvação e da glória.
Nesta celebração, acompanhamos os passos do Senhor em sua Paixão até à entrega total na cruz.
Contemplando e adorando o Senhor crucificado, elevamos nossa oração por todas as pessoas que o sangue de Cristo nos fez irmãos, especialmente os que sofrem, prolongando, hoje, o mistério de sua cruz.
Comungando do seu corpo, recebemos força para viver da esperança e da vitória que nasce da cruz. É Páscoa. Cristo, que morre na cruz, passa deste mundo ao Pai. Do seu lado brota-nos a vida sobrenatural. Passamos do pecado para vida nova da ressurreição. “É a páscoa da Cruz”.
Hoje, irmãos, estamos diante do corpo morto do Senhor. Hoje, estamos diante da morte do Filho de Deus, “que se humilhou até a morte e morte de cruz”. Jesus, que suportou a calúnia, o desrespeito, a zombaria, a condenação de morrer numa cruz, morte reservada a criminosos, é quem nos concede o salvo-conduto para participarmos dos benefícios que o seu martírio nos assegura até hoje: “Jesus Nazareno, o Rei dos Judeus”.
A paixão e morte de Jesus é um mistério, uma verdade de fé que ultrapassa a compreensão dos pobres mortais. Por isso, é necessário que todos nos penitenciemos e rezemos como Ele: “Pai, perdoai-lhes eles não sabem o que fazem”. De maneira exemplar, Cristo cumpriu a vontade do projeto de salvação de seu Pai: angústia, dor, calvário, crucificação, vinagre, desprezo, humilhação, despojamento, doação, enfim, amor pela humanidade.
A paixão nos foi relatada em densas palavras e episódios que devem não somente tocar nossos corações, mas fazer de cada um de nós protagonistas da paixão. Rezamos com esta Paixão. Vamos nos converter e procurar a graça de Deus com o relato que acabamos de refletir.
Morte da pessoa mais importante da humanidade: morte do Filho de Deus, morte do Redentor, morte do homem que salvou a humanidade. Tanta humilhação que ouvimos que um soldado lhe abriu o lado com uma lança. Nunca imaginaríamos o soldado anônimo, que a tradição mais tarde chamou-o de Longinus, cujo gesto cruel era o cumprimento da profecia de Zacarias: “...derramarei sobre a casa de Davi e sobre os habitantes de Jerusalém um espírito de graça e de consolação. E eles olharão para mim depois de haver-me transpassado. Lamentarão a morte do filho único, chorarão como se chorassem sobre um filho primogênito” (Zc 12, 10).
Contemplamos o Cristo transpassado e morto na cruz. O primogênito de Deus Pai, isto é, aquele que tem o direito de herança sobre tudo. O primogênito de todas as criaturas, aquele para quem todas as coisas foram feitas, tanto as do céu quanto as da terra.
Domingo passado celebramos a entrada triunfante de Jesus em Jerusalém com o Domingo de Ramos. Ontem celebramos a instituição da Eucaristia, instituição do sacerdócio ministerial. Diante do templo, o povo curioso por causa da ressurreição do amigo fiel, Lázaro, quer estar perto de Jesus. Daí a afirmação do Senhor: “Eu vos digo com toda a verdade, se o grão de trigo, caindo na terra, não morrer, ficará só; mas, se morrer, produzirá muito fruto” (Jo 12,24).
Pensemos bem: Jesus é o grão de trigo que traz dentro de si a força da vida, da vida eterna, da vida na Trindade. Mas, para que anuncie a vida, irrompendo a morte terá que morrer, na mais cruel de todas as mortes, a morte de cruz. O grão morre para brotar, é um grão carregado de esperança, de doce esperança da ressurreição. É uma morte que anuncia e traz no seu bojo a vida, a vida eterna. Morte bendita que anuncia e personifica a vida, vida plena, vida em abundância, vida em plenitude. Por isso a Cruz é o lenho da esperança cristã, o símbolo de nossa fé: “Enquanto o mundo gira, a cruz permanece de pé!”
Choramos a morte de Jesus no madeiro da Cruz. Beijamos o Senhor Morto e na noite de hoje iremos retirar Jesus da Cruz e caminhar com seu esquife pelas principais ruas desta Manchester mineira, saindo do Morro da Glória em direção à Sé Catedral Metropolitana de Santo Antônio. Contemplamos as suas chagas! 
Contemplamos o seu sofrimento! Contemplamos a morte para ressuscitarmos com o Senhor no terceiro dia, na ressurreição da vida eterna! 
Sofrimento pela morte! Sofrimento que ilumina o mundo. Sangue que derramado pela nossa iniqüidade é esperança da vida eterna. Cristo morto que nos pede um renovado empenho pastoral para abandonar a morte e viver a vida plena, vida de fé, vida de comunidade, vida de conformidade com o projeto de salvação de Nosso Senhor Jesus Cristo. Vida de conformidade com o Deus da Luz, com o Deus da Vida, com o projeto do Primogênito e redentor de todas as criaturas no caminho que nos leva à glória eterna.
O evento da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus Cristo são três momentos distintos, mas inseparáveis, de nossa fé: “Cristo morreu por nossos pecados e foi sepultado. E ressuscitou ao terceiro dia”. E, mais, “ninguém me tira a vida. Tenho o poder para dá-la e novamente para retomá-la”. 

Estamos diante de um morto, que é nosso: Jesus de Nazaré, nascido de uma mulher virgem, morto pelos nossos pecados, de cujo lado aberto pela lança da misericórdia correu água, que lavou nossos crimes e nossa infidelidade. Jesus o dom da vida eterna, a verdade única, a luz eterna, a árvore da vida do Paraíso, o caminho para a ressurreição e a vida. 
Com tudo isso, entre as leituras e a veneração da Cruz gloriosa, assistiremos agora às grandes preces da Igreja, modelo das preces dos fiéis em nossa Liturgia. Este rito também se inspira na idéia de que a cruz é a fonte da graça de Deus, da vida da Igreja. Do lado aberto do Salvador nasce a sua única Igreja, a Santa Igreja Católica. 
Enfim, depois da mistagogia da palavra de Deus, das preces universais, especialmente da oração pedindo a paz e do pedido generoso de dignidade e vida plena para os deficientes, para aqueles que são chamados a se levantarem, permitirem-se ao resgate de Deus, atendendo ao apelo do Mestre, iremos receber a comunhão, simples e devoto gesto de dedicação ao Senhor que nos amou até o fim: “Jesus tanto amou o mundo que morreu na Cruz pela nossa Salvação”. 
A liturgia sugestivamente mantém desde a noite de ontem o altar desnudado e o sacrário aberto. Jesus está morto. Que o sofrimento seja o caminho de vida, como o grão que morre para dar a vida à espiga. Jesus abraçou a cruz e a morte por fidelidade à missão que o Pai lhe deu, de ser o rosto misericordioso de Deus, solidário com os pequenos, com os pecadores, com os idosos, com os pobres.
Esta é a nossa missão: ser fiel com o Cristo da Cruz, do Calvário para a Ressurreição e para a Vida eterna. Amém.